Morar fora do Brasil: O que não te contam.

Quantas vezes a gente escuta as seguintes frases “ah, se eu pudesse morar fora do Brasil, não pensava duas vezes” ou “Quê? Fulano voltou? O que ele veio caçar aqui, no Brasil? A idealização, quase “cinematográfica” da vida no exterior é um consenso no imaginário brasileiro. De fato, a vida nos países desenvolvidos traz muitos benefícios, principalmente relacionados à segurança e ao poder de consumo que tanto almejamos no Brasil. Nos meus quase 7 anos vivendo como imigrante na Inglaterra e no Canada pude tirar muitos aprendizados que não somente dizem a respeito da minha experiência pessoal, mas a de outros colegas e familiares. Logo, resolvi deixar alguns aprendizados que sinto que poucas pessoas mencionam sobre morar fora do Brasil.

Aprenda a língua!

O processo de imigração para outra nação deveria ser um ato com planejamento mínimo de 2 anos. Mas a realidade é que poucos imigrantes se preparam verdadeiramente para os desafios desse processo, principalmente em relação à língua. A falta de habilidade mínima no idioma local tem implicações diretas negativas sobre a empregabilidade e até mesmo no tempo de estadia no país. Sendo assim, é extremamente difícil se relacionar no trabalho, compreender e inserir-se nos diversos sistemas. Isso leva à um processo de alienação e insatisfação constante que culmina no regresso precoce de muitos imigrantes para o país de origem. O domínio mínimo sobre a idioma local deve estar na lista de prioridades de todos aqueles que desejam ter uma estadia sustentável no exterior, caso contrário, a inserção social e cultural torna-se um processo árduo e desanimador.

Nem tudo é consumo.

Quando estamos no Brasil vivemos uma verdadeira abstinência pela dificuldade que temos de consumir bens e serviços. Muitas das vezes, superestimamos o valor que isso tem para o nosso bem-estar. Quando finalmente temos a oportunidade de comprar e consumir “à vontade”, percebemos que o número de bolsas e sapatos em nosso guarda-roupa, ou até mesmo as idas aos restaurantes e parques aos finais de semana, não parece aumentar a nossa satisfação como imigrantes. Lembramos dos amigos, sentimos falta dos familiares, do clima, da comida, coisas que nem dávamos valor. Mas isso tudo é normal! Afinal, sacrificamos algumas coisas para ganhar outras. Não é possível ganhar sempre! No final, tudo se resume no ensinamento de Sócrates “conhece-te a ti mesmo”. Assim, saberás entender aquilo que é essencial e aquilo que é complementar para sua vida. Mas tenha certeza, nem tudo é consumo!

Regressarás e voltarás, novamente.

Isso é algo bem curioso. É bem conhecido que a maioria dos brasileiros que emigram para outros países desenvolvidos tem como principal objetivo conquistar uma vida melhor no Brasil. Eles trabalham por um certo período, juntam dinheiro, compram imóveis. Mas ninguém conta o que acontece quando finalmente conquistam esses objetivos e retornam ao Brasil. Após anos trabalhando no exterior, o regresso deveria ser algo como um “ar” de missão cumprida e finalmente a paz estabelecida com a sua terra natal. Engano! A verdade é que todo emigrante passa por algo que eu chamo de “síndrome do nem aqui e nem lá”. Após anos fora de sua terra, muitas coisas mudam, o próprio emigrante já sofreu as mutações em seu estilo de vida, em sua opinião e gostos. O Brasil que reencontra não é o mesmo! A inserção no mercado de trabalho, o salário e o consumo são dificultados, às vezes. A relação com os amigos antigos é diferente. E o próprio emigrante começa a estranhar a sua própria cultura. Todavia, não se identifica por completo com a cultura estrangeira, se tornando um despatriado cultural. Isso culmina com uma boa parte retornando ao país estrangeiro com o objetivo de resgatar a sua vida anterior pois sente que o Brasil de sua lembrança não existe mais.

A verdade é que todo emigrante passa por algo que eu chamo de “síndrome do nem aqui e nem lá”. Após anos fora da sua terra, muitas coisas mudam, o próprio emigrante já sofreu as mutações em seu estilo de vida.

O desconhecimento custa caro.

É essencial que uma boa dose de esforço seja direcionada à compreensão dos processos de emigração, das alternativas para legalização, do tipo de visto a se aplicar, do funcionamento burocrático do país em relação às leis trabalhistas, ao registro em agências reguladoras de trabalho, ao funcionamento do sistema de saúde etc. Muitos emigrantes optam pela ilegalidade pelo desconhecimento das alternativas de vistos e processos aplicáveis para cada situação. Uma pesquisa minuciosa, com ajuda de um especialista no assunto, é um investimento que vale a pena. Pois uma vez optado por uma vida ilegal no país, isso pode dificultar um futuro processo de legalização. Afinal, todo emigrante quer estabilidade para poder trabalhar e conquistar seus objetivos sem o fantasma do medo de ser deportado.

Viver fora e conhecer uma nova cultura é sem dúvida uma experiência de tirar o fôlego e, mais importante, impactante para vida de qualquer ser humano. É impossível retornar o mesmo. Para aqueles que desejam um dia ter essa experiência o meu conselho é sempre o mesmo: “Vai! Pé no chão, planeje-se, aprenda a língua, e seja realista quanto a escolha”.

 

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